Tempo ampulhetável.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Escultura: Galatéia - Eduardo Martins
O tempo que passa na ampulheta não parece ser o tempo real. Minutos de vida e horas ampulhetáveis, ou vice e versa. O espaço, ou o espasmo, de tempo não tem que justificar nem nada. Quer dizer pedra, pedra d egente. Dureza pra pensar, dureza corporal. Ócio ou vontade mal aproveitada? Dar prazer dá trabalho... mas dá o que é ótimo depois vem uma chuva de hormonios pra fazer gozar todo o corpo. A minha ampulheta tinha um grão de areia que era mais espesso do que o normal - era anormal. Creio eu que muitos olharam para elas mas nenhum teve coragem de ter um frão anormal no seu medidor de tempo. Ao bater o olho eu nem tinha visto. Vim pereber depois que meu tempo era proveitoso, dilatado, amplo. Quem controla? A ampulheta, eu, quem, o quê? Tempos passando o grão da ampulheta enganchou não passava, na ampulheta, nem mais um minuto. Sabe que por um instante eu parei com ela? E depois a explodi, joguei no chão como quem apaga uma guimba de cigarro ruim no chão de um ponto de ônibus. Vi, então, o mais bonito da ampulheta: os vidros quebrando, tilintando, as areias toscamente coloridas se espalhando e se espalhando tanto que aquele grão que parecia ser tão anormal não podia mais ser diferenciado. Recuperei o tempo, parte dele. Recuperada outra parte de tempo pelo sono.

 
© LIVRE ESPAÇO DE ABSTRAÇÃO